Filipe Albuquerque

Mid-Ohio

🇺🇸

14 – 16 Janeiro

Mid-Ohio Sports Car Course

IMSA Weathertech Sportscar Championship

Wayne Taylor Racing

1 º Lugar

Depois de um fim-de-semana que não correu tão bem, em Sebring, fomos para Mid-Ohio que é uma pista boa para o Acura que ganhou lá nos últimos três anos (2018, 2019 e 2020). A vontade de voltar a ganhar e regressar ao pódio também vinha acompanhada da pressão de todos os que nos diziam que tínhamos de ganhar, obrigatoriamente. Aliás, a Acura tem uma fábrica neste estado, todos os patrões estiveram presentes na corrida que até se chamava  Acura Sports Car Challenge Presented by the TLX Type S, um novo modelo apresentado por este construtor. Havia muita pressão – mas há sempre pressão em todos nós. 

A pista é pequena, no meio dos campos de trigo e relvados em Ohio. A caminho da pista, sempre para trás e para a frente com o Ricky, reparei nos campos, nas estradas solitárias, nas quintas e celeiros. Havia público na pista, começámos a ter eventos com assistência, ainda com a sua devida distância de segurança. Fizemos uma ação com a Acura com interação com o público, que foi excelente, já não acontecia há bastante tempo.

O ambiente na equipa era bom, estávamos concentrados em aprender mais sobre o carro, fazer setups diferentes, explorar mais ideias, principalmente porque este interregno entre corridas foi grande e deu margem para o engenheiro aprender e estudar o carro, através da telemetria.

O plano para esta corrida era eu qualificar, fazer o arranque e entregar o carro ao Ricky para ele terminar. Os treinos livres correram bem embora tenha sido sempre difícil perceber o verdadeiro andamento de toda a gente mas parecia que a qualificação iria ser disputada entre nós, o carro #60 (o outro Acura) e o carro #31. Eu queria muito fazer a pole position até porque nunca fiz uma pole position no IMSA e achava que tinha hipóteses para isso. Ainda cheguei a liderar a sessão de qualificação mas fui passado pelo Mazda que fez uma volta surpreendentemente melhor que a minha. Digo surpreendente porque foi apenas 0,095 segundos mais rápido, mas também porque nos treinos livres eles não tinham mostrado essa rapidez. Só mostra o quão competitivo é o campeonato. Ainda assim fiquei contente com a qualificação em segundo, na primeira fila da grelha, apesar de saber que para o arranque ia ser muito difícil a curva 1 porque iria estar por fora e é uma curva onde existem muitos acidentes, principalmente para quem arranca de 2.º.

Eu aproveitei a sessão de warm up para treinar o arranque e a curva 1. Esta decisão deixou muita gente confusa nesta pequena sessão porque pensaram que eu estaria com problemas por estar a abrandar no meio da recta e depois fazer a curva por fora. Eu já estava a treinar e a pensar na corrida e não no warm up. Como pilotos, preparamos mil e um cenários do que pode acontecer num arranque. Apesar de já ter corrido duas vezes em Mid Ohio, é sempre importante conhecermos novos limites.

O arranque da corrida acabou por ser péssimo, provavelmente um dos piores dos últimos tempos. Fiquei logo a discutir a posição ao longo da recta com o terceiro classificado, o Pipo Derani mas depois a travagem e a minha preparação para a curva 1 estava bem afinada e consegui manter a posição simplesmente porque conhecia os limites da curva com pneus frios.

No meu primeiro stint estava à espera de ter o mesmo andamento do Mazda mas aquele carro estava muito mais rápido e tive que apenas gerir o meu andamento. Esta falta de andamento justificou-se pela nossa estratégia de corrida porque decidimos arrancar com os pneus de qualificação, quando a maior parte dos outros pilotos arrancou com pneus novos. Na troca de pneus, na paragem para o segundo stint pusemos pneus novos e o meu andamento melhorou bastante, no mesmo nível dos outros carros.

Entreguei o carro ao Ricky em 3.º e ele fez metade do primeiro turno confortável, com bom andamento, mas depois apareceu uma bandeira amarela que baralhou as contas a muitas equipas. Todas tiveram de improvisar a estratégia da corrida e foi nessa altura que viemos para as boxes em safety car e  saímos em 2.º, atrás do #31. O Mazda caiu de 1.º para 3.º.

Na repartida, o Ricky teve um sentido de oportunidade fantástico porque o #31 cometeu um erro na curva 4 e o Ricky conseguiu posicionar-se para o passar na curva 6.

Começámos a liderar mas o último pit stop tinha acontecido no limite e não tinhamos a certeza se iríamos conseguir chegar ao fim da corrida com o mesmo depósito de gasolina. Todos estávamos na mesma estratégia, de poupar  gasolina, mas nós tínhamos de defender o primeiro lugar.

O #31 estava com bom andamento e até parecia que tinha mais gasolina.  Nesta fase, os nossos engenheiros calculavam, volta a volta, a quantidade de litros que tínhamos até ao fim, sem nunca saber se iríamos ficar sem gasolina na última curva, como já me aconteceu em Petit Le Mans, em 2019, quando fiquei parado na última curva, após 10 horas de corrida.

Acreditámos que todos os outros carros estariam também com o mesmo desafio e no limite. Aliás, até houve carros que pararam para meter 3 litros de gasolina para chegar ao fim.

Decidimos arriscar e ir para a vitória, foi uma decisão ou tudo ou nada. Não vou negar que me senti bastante nervoso porque estou muito habituado a ser eu a fazer os stints finais mas soube bem ter confiança no meu colega de equipa e saber que ele ia dar conta do recado – se não desse, era porque não era possível.

Correu bem e ganhámos uma corrida de perícia, estratégia e de alguma fé. Esta foi a quarta vez que a Acura ganhou em Mid-Ohio, sendo a minha primeira vitória e a terceira do Ricky em 4 anos.

Como é claro, quando ganhamos somos todos uns heróis, principalmente quando temos os grandes patrões da Acura presentes e depois de termos ouvido que a Acura ganha sempre em Mid Ohio. Mais uma vez estivemos ao nível da grande expectativa mas sem esquecer que esta foi apenas a nossa terceira corrida com o carro.

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